segunda-feira, 15 de maio de 2017

Dia dos professores (OUT/2010)


Thaís Costa
Outubro/2010

É dia dos professores... o meu terceiro dia dos professores... e tento procurar um motivo para comemorar. Hoje fiquei sabendo que mais duas pessoas que se formaram comigo resolveram abandonar a profissão... mais duas... menos duas...
Nas salas dos professores das escolas onde trabalho, o assunto sempre são os alunos e como está difícil e, muitas vezes, insuportável dar aula. Nós lidamos com alunos mal-educados, carentes, rebeldes, drogados, com problemas psicológicos, envolvidos na criminalidade... e todas essas especificidades juntas numa sala de 40 alunos ou mais. Vemos pais nos cobrarem uma atitude e dizerem que não sabem mais o que fazer com os filhos... vemos pais que não querem saber dos filhos ou que acham que querer saber deles é sinônimo de passar a mão sobre suas cabeças sempre que fizerem algo de errado... vemos pais cegos, que acham que os filhos são santos e que a escola os discrimina... Vemos tantas coisas... Vemos a crueldade e a violência de alguns alunos para com outros alunos e para com os professores; vemos também a banalização do palavrão e do sexo em sala de aula; vemos a vulgarização das meninas e a banditização dos meninos, que muitas vezes nem fazem nada de errado, mas falam e têm atitudes como de bandidos, porque estes são os seus ídolos. Vemos tanta coisa, Meu Deus! E todos os dias nos perguntamos: o que estamos fazendo aqui? Para que tentar dar educação a quem não a deseja, a quem vê o professor como o inimigo a ser combatido, e não como alguém que está ali para orientá-lo? Essa guerra muitas vezes parece tão injusta... são 40, 50 alunos contra um professor em sala de aula.
O que mudou nos últimos anos? Na minha época de aluna não era assim... nunca fui santa, nem uma múmia em sala de aula, mas respeitava meus professores e sempre tive prazer em estudar. Por isso quis ser professora, porque achava que era na sala de aula que eu poderia fazer diferença. Mas que diferença eu estou fazendo hoje se, muitas vezes, me pego pensando: Droga! Tenho que ir dar aula para aquela turma! O que eu posso fazer por eles se eu mesma não quero estar ali?
É claro que nem todas as turmas me fazem sentir assim... mas são exceções, infelizmente. Há alunos carinhosos, há alunos curiosos, há alunos com fome de saber... esses alunos me fazem continuar, me fazem acreditar que ainda é possível mudar essa situação, mas não posso negar que, mesmo nesses momentos, tenho me perguntado: Será?
Enfim, aos meus companheiros de labuta, um bom dia dos professores (ainda que atrasado), que consigamos repensar nossa prática de modo que possamos chegar a esses alunos que ainda nos vêem como inimigos para que, de fato, façamos alguma diferença!

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