sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Dia dos professores 15/10/2017

Eu tentei. Eu juro que tentei resistir ao desejo de escrever algo sobre o dia de hoje. Mas acabou sendo mais forte do que eu. Então, vamos lá.
Em primeiro lugar, eu gostaria de dizer que não escolhi ser professora, pelo menos não conscientemente. Eu fui escolhida. Na minha adolescência, pensei em administração, direito, jornalismo... mas o magistério nunca foi algo dito por mim. Porém, estudando em colégio público e sem grana para pagar um cursinho, tive de fazer um cálculo quase matemático. Eu gostava de estudar, sempre acreditei que eu era capaz de fazer tudo o que quisesse, só precisava de oportunidade, e a oportunidade - eu também sabia - só viria por meio da educação.
Ser uma das melhores alunas do meu colégio, ter as melhores notas, gostar de estudar todas as matérias e de ensiná-las (!!!) aos meus colegas não me garantiu, na corrida injusta do vestibular, nota para o curso de Comunicação Social. O cálculo, então, foi o que me levou a escolher o curso de Letras, ainda sem pensar no magistério. Afinal, qual era a matéria em que eu tinha maior facilidade? Qual o curso que seria mais próximo da Comunicação social? Além do mais, eu havia descoberto, ainda que tardiamente, o prazer pela leitura, então não tinha o que perder em tentar.
Escolhi o curso de Letras e na primeira semana estava apaixonada, mas ainda não pensava em ser professora. Na verdade, houve um tempo em que eu até tive pânico de sala de aula. A solicitação  de transferência  de  curso, porém, nunca foi feita. Com o passar dos anos, veio a descoberta de uma vocação que eu não havia imaginado, embora parecesse óbvia para alguns. Minha mãe recentemente me disse (me lembrou?) que, desde pequena, eu queria ser professora: - Você dava aula para tudo - ela disse -, para bonecas, para as crianças do prédio e até para as paredes.
De fato, lembro que ganhei quando criança  uma lousa de presente do meu pai por causa disso. Bem, mas, se essa vocação se colocou desde tão cedo, por que eu nunca pensara nela como uma possibilidade? Talvez porque já naquela época ser professor não estava associado a ser bem-sucedido, talvez porque eu acreditava que o céu era o limite e o magistério me prenderia ao chão.
Esse, contudo, não é o relato de uma pessoa frustrada, que se tornou professora por falta de opção. Esse é o relato de alguém que, como eu disse, foi escolhido para seguir essa carreira. Todos no mundo têm uma missão e eu estou convencida de que essa é a minha. Visão utópica? Romântica? Eu sei - e como sei - que a rotina é árdua, cansativa, que exige dedicação e abdicação. Muitas vezes a desmotivação e o desânimo, devido à falta de valorização e reconhecimento por parte do governo, das escolas, dos alunos e dos pais, leva muitos a desistir, alguns antes mesmo de começar. Eu sinto e passo por tudo isso todos os dias. Tudo isso me abala e muito. Há, no entanto, algo que me faz continuar e acreditar: alguns alunos. É, não são todos, infelizmente. Mas não dá para mudar o mundo todo de uma vez ou sozinha.
Como professora, mais do que transmitir conteúdos e vender modelos, eu busco plantar sementes. Sementes que eu espero que um dia germinem, cresçam e plantem outras sementes. São esses alunos que me ajudam a manter a chama acesa. É por eles que sigo em frente tentando fazer o meu melhor, tentando ser uma pessoa melhor, a melhor pessoa que posso ser. O dia de hoje, então, sem esses alunos, não faria sentido. Sem eles, eu não seria professora (existem professores sem alunos?). A eles dedico esta crônica e agradeço por tudo o que, mesmo sem saberem, me ensinaram.

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