quinta-feira, 15 de junho de 2017

Muito menos do que eu gostaria (7/6/2017)


Thaís Costa
Junho/2017


Finalizar o meu último texto e me dar conta do avançar das horas me fez perceber algo terrível.. Eu escrevo muito menos do que eu gostaria. Eu leio muito menos do que eu gostaria. Vejo meus amigos, brinco com meus gatos e curto o conforto da minha casa muito menos do que eu gostaria. Viajo, conheço novos lugares e culturas ou simplesmente paro para observar e sentir a natureza muito menos do que eu gostaria. Não tenho namorado ou um grande amor, ainda que não correspondido. Não sou fã de futebol ou adepta a religiões. Trabalho como uma louca. E sinto falta quando não tenho que trabalhar. Como chocolate quase todos os dias, essa pequena loucura me dá algum prazer. E sabe o que é pior disso tudo? É o sentimento de não ter sido. Eu passo tanto tempo sendo, que eu não consigo ser o que eu gostaria de ser. Eu sinto que eu poderia ser tudo o que eu quisesse, se eu tivesse tempo para ser. Eu gostaria de estudar história do Brasil e do mundo, filosofia, história da arte, literatura (por mais que se conheça sempre há mais a se conhecer), música (eu verdadeiramente gostaria de aprender a tocar algum instrumento), gastronomia (eu adoro cozinhar...). Mas, em vez disso, a minha existência está fadada à subsistência. É tarde. Eu devo dormir, amanhã um novo dia começa e é preciso acordar muito cedo para ir trabalhar. Uma vida inteira isenta de grandes paixões, uma vida sem perigos. “A vida apenas, sem mistificação”, como diria Drummond.

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